Introdução
A prova da OAB é um verdadeiro divisor de águas. Ela marca o fim de uma longa jornada acadêmica e o início da vida profissional. No entanto, entre o sonho da aprovação e a conquista da carteira, há um obstáculo conhecido e temido: as pegadinhas.
Essas “armadilhas” não são meras invenções da banca — elas têm um propósito claro: avaliar a capacidade de leitura, interpretação e raciocínio jurídico do candidato. Em um exame que busca selecionar bacharéis preparados para lidar com a complexidade do Direito, a habilidade de compreender nuances e evitar conclusões precipitadas é essencial.
A seguir, apresento os principais tipos de pegadinhas que mais derrubam candidatos na 1ª fase da OAB, com dicas práticas para identificar e evitar cada uma delas.
Palavras absolutas: quando o “sempre” e o “nunca” entregam a resposta
Uma das formas mais clássicas de indução ao erro é o uso de termos absolutos nas alternativas: sempre, nunca, exclusivamente, somente, necessariamente, apenas.
Essas palavras soam fortes e, muitas vezes, transmitem segurança — mas, no Direito, que lida com exceções, princípios e ponderações, raramente há verdades absolutas.
Por exemplo:
“A ação popular sempre será isenta de custas judiciais e do ônus da sucumbência.”
Errado! O autor da ação popular pode ser condenado se agir de má-fé, conforme as regras do litígio temerário.
📌 Dica estratégica: desconfie de alternativas que contenham expressões categóricas. O Direito é cheio de “salvo quando” e “exceto se”, e a FGV sabe explorar isso como ninguém.
Competências trocadas: o pesadelo do Direito Constitucional
Outro tipo frequente de pegadinha está nas questões sobre repartição de competências. É comum a banca confundir competência comum, concorrente e privativa — ou trocar competências entre os entes federativos.
Exemplo clássico:
“Compete privativamente à União legislar sobre juntas comerciais.”
Errado! A competência para legislar sobre juntas comerciais é concorrente (art. 24, III, da CF), ou seja, a União edita normas gerais, e os Estados e o Distrito Federal podem suplementá-las.
📌 Dica estratégica: para diferenciar, pense assim:
- Exclusiva da União (art. 21, CF): execução de tarefas apenas pela União, como emitir moeda.
- Comum (art. 23, CF): execução compartilhada de tarefas, como proteger o meio ambiente.
- Privativa (art. 22, CF): competência legislativa da União, podendo ser delegada (por lei complementar) aos Estados a legislação sobre questões específicas.
- Concorrente (art. 24, CF): todos legislam com limites, pois a União é quem edita normas gerais.
Essa lógica simples ajuda a resolver boa parte das questões constitucionais e evita confusões que custam pontos preciosos.
Enunciado contraditório: detalhes que fazem toda a diferença
Essa é uma pegadinha clássica. A FGV começa a questão com algo correto e termina com um erro — e o candidato, confiante, marca sem ler até o fim.
Exemplo:
“Os atos administrativos são dotados de presunção de legitimidade e de veracidade e, por conta disso, não podem ser anulados pela Administração.”
Errado! A Administração pode anular seus próprios atos ilegais, conforme a Súmula 473 do STF.
📌 Dica estratégica: nunca marque uma alternativa sem ler até o último ponto final.
Normas revogadas: o perigo do estudo desatualizado
Muitos candidatos erram porque estudam por materiais desatualizados. A FGV cobra a legislação vigente — e artigos revogados são uma armadilha silenciosa.
Um exemplo recorrente é a confusão entre a Lei nº 8.666/93 e a Lei nº 14.133/21 (Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos). A banca pode inserir um dispositivo revogado e o candidato, por hábito, marcá-lo como correto.
📌 Dica estratégica: revise sempre a base legal atualizada, especialmente em disciplinas que sofreram reformas recentes (como Direito Administrativo, Tributário, Penal e do Trabalho). Estude sempre com materiais alinhados às últimas provas da FGV.
Exceções disfarçadas de regra
Outra armadilha clássica é apresentar uma exceção como se fosse regra geral. Isso ocorre, por exemplo, em temas como remédios constitucionais, contratos administrativos e direitos fundamentais.
Exemplo:
“O Mandado de Segurança cabe contra lei em tese.”
Falso! O MS não cabe contra lei em tese, apenas contra ato concreto que viole direito líquido e certo (Súmula 266 do STF).
📌 Dica estratégica: quando a alternativa parecer generalista demais, lembre-se: o Direito adora exceções.
Termos ambíguos: o perigo da interpretação precipitada
Algumas questões são redigidas de forma intencionalmente ambígua, induzindo o candidato a aplicar um conceito fora de contexto.
Exemplo:
“A responsabilidade civil do Estado é sempre subjetiva.”
Errado! A regra é objetiva, com base na teoria do risco administrativo. A palavra “sempre” denuncia a pegadinha.
Em outras situações, a banca troca o sujeito da ação — menciona “Administração direta”, mas o contexto é de “entidade da administração indireta”.
📌 Dica estratégica: leia cada alternativa como um mini enunciado. Verifique quem pratica o ato, qual o fundamento legal e em que contexto ele se insere.
Enunciados extensos: o cansaço como armadilha
A FGV sabe que o tempo é um recurso escasso na prova. Por isso, às vezes, a pegadinha está no tamanho da questão. Enunciados longos, cheios de nomes, datas e detalhes irrelevantes fazem o candidato perder o foco no que realmente importa.
📌 Dica estratégica: leia a pergunta final antes do enunciado completo. Assim, você já sabe o que procurar e evita se perder em informações supérfluas.
Termos técnicos e conceitos próximos
Há pegadinhas que exploram palavras semelhantes com significados jurídicos distintos.
Exemplos:
- Competência × capacidade (Processo Civil);
- Desapropriação × requisição administrativa (Direito Administrativo).
A banca adora testar se o candidato compreende o conceito ou apenas o decorou.
📌 Dica estratégica: ao se deparar com termos parecidos, compare seus efeitos jurídicos: quem pode praticar, em que hipótese e com qual consequência.
A falsa literalidade da lei
A FGV muitas vezes cita o texto legal quase idêntico ao original, mas com uma pequena alteração que muda completamente o sentido.
Exemplo:
“A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”
Se a banca trocar “não prejudicará” por “poderá prejudicar”, o candidato distraído erra.
📌 Dica estratégica: desconfie de alternativas que pareçam citações literais. Uma única palavra diferente pode inverter o sentido inteiro do dispositivo.
Questões interdisciplinares: o raciocínio integrado como diferencial
Cada vez mais, a prova da OAB exige raciocínio interdisciplinar. Uma questão de Constitucional pode envolver elementos de Administrativo; uma de Ética pode dialogar com Processo Civil, e assim por diante.
O candidato que estuda de forma isolada, compartimentando o conteúdo, acaba sendo surpreendido.
📌 Dica estratégica: resolva simulados mistos e identifique conexões entre temas. Isso desenvolve uma visão sistêmica do Direito, essencial para o estilo da FGV. Além disso, estude duas ou mais matérias por dia para treinar a agilidade mental e o raciocínio jurídico integrado.
Por fim: o papel dos simulados e da revisão estratégica
A melhor forma de se proteger das pegadinhas é treinar com questões reais da FGV. Resolver provas anteriores não é apenas revisar conteúdo — é aprender a pensar como a banca.
Os simulados ajudam a identificar padrões, temas recorrentes e tipos de erro. Também permitem treinar o tempo de resolução e o controle emocional, fatores decisivos para manter a concentração até o último minuto.
📌 Dica final: após cada simulado, analise suas questões erradas com atenção. Entenda por que errou, não apenas qual era a resposta certa. Essa reflexão é o que diferencia o estudante mediano do aprovado.
Conclusão: as pegadinhas não são vilãs — são testes de leitura jurídica
As pegadinhas da OAB não existem para enganar o candidato, mas para medir sua capacidade de interpretar juridicamente. A prova não quer saber se você decorou artigos de lei, e sim se consegue aplicá-los com precisão, diante de situações concretas que exigem raciocínio e atenção aos detalhes.
Em resumo, o segredo está em três atitudes:
- Ler com calma, identificando palavras-chave;
- Desconfiar de afirmações absolutas ou generalistas;
- Manter o estudo atualizado e contextualizado.
Ao dominar essas estratégias, o candidato deixa de ser refém das pegadinhas e passa a usá-las a seu favor, transformando armadilhas em oportunidades de demonstrar segurança e domínio técnico.
Afinal, quem lê com atenção, raciocina com lógica e revisa com método não se deixa enganar — transforma o “erro induzido” em ponto certo e a aprovação em realidade.
Prossigamos firmes nessa caminhada!
Grande abraço,
Professora Bruna Vieira
📚 Instagram: @profabrunavieira
Referências
- Editais dos respectivos Exames de Ordem.
- Provas de primeira fase dos últimos 10 Exames de Ordem (a partir do 44º).
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